quarta-feira, janeiro 31

A Despensa

Para não sobrecarregar este animado espaço, a Bruxa decidiu abrir mais um cantinho da sua cabana e mostrar-vos alguns dos produtos que vai comprando, recebendo e cozinhando a pensar naquele repasto final que acontecerá lá mais para o Verão. Por isso, sempre que houver novidades terão de se deslocar até à minha despensa.

Oiça Lá Ó Senhor Vinho


Oiça lá ó senhor vinho,
vai responder-me,
mas com
franqueza:
porque é que tira toda a firmeza
a quem
encontra no seu caminho?

Lá por beber um copinho a
Mais
até pessoas pacatas,
amigo vinho, em desalinho
vossa mercê faz andar de gatas!

É mau
Procedimento
e há intenção naquilo que faz.
Entra-se
em desequilíbrio,
não há equilíbrio que seja capaz.

As leis da Física falham
e a vertical
de qualquer lugar

oscila sem se deter
e deixa de ser
perpendicular.

"Eu já fui", responde o vinho,
"A
folha solta a brincar ao vento,
fui raio de sol no
firmamento
que trouxe a uva, doce carinho.

Ainda
guardo o calor do sol
e assim eu até dou vida,
aumento
o valor seja de quem for
na boa conta, peso e medida.

E só faço mal a quem
me julga ninguém
e faz
pouco de mim.
Quem me trata como água
é ofensa,
pago-a!
Eu cá sou assim."

Vossa mercê tem
Razão
e é ingratidão
falar mal do vinho.
E a
provar o que digo
vamos, meu amigo,
a mais um
copinho!

Alberto Janes para a voz de Amália Rodrigues

terça-feira, janeiro 30

ETA no aeródromo da Amoreira: 9 da manhã...

Numa curiosa mescla de crendice e fé, o primeiro dia do regresso da Bruxa das PAPs às salas da EPTC tem como orago S. João Bosco, inspirador dos pedagogos. Nem de propósito: era um João que sabia ensinar! Assim ele inspire aqui a Bruxa…

segunda-feira, janeiro 29

Preparem os Argumentos

Algumas curiosidades sobre os livros de cozinha em Portugal...






No nosso país, o livro de cozinha, impresso, mais antigo de que há conhecimento foi publicado em 1680 e é da autoria de Domingos Rodrigues: chama-se Arte da Cozinha.
Na Biblioteca Nacional existem vários manuscritos anteriores a este livro, sendo um dos mais antigos Receitas de milhores doces e de alguns guizados particullares e remedios de conhecida expiriencia que fes Francisco Borges Henriques para o uso da sua caza. No anno de 1715. Tem seo alfabeto no fim. Esta obra tem de tudo, para todas as necessidades e gostos. Ora vejam só: receitas de queijadas, ovos-moles e pudins a par de «um remédio para as mulheres que casarem parecerem donzelas», modo de tratar as tripas do Porto ou a cabeça de vitela e logo «uma oração de Santa Quitéria para Homens e Animais mordidos por cães ou outro algum animal derramado que há-de dizer um Sacerdote com sobrepeliz e estola à porta da Igreja, com cruz alçada», pratos de bacalhau, morcelas, empadas e frangão, ao lado de remédios «para crescer o cabelo onde precisar» e de um «Cerimonial dos Lutos». Parece-me uma obra da maior utilidade!

domingo, janeiro 28

Cozinha Alquímica

Certas especialidades gastronómicas não ficam a gosto se não passarem por um processo culinário que leva o inesperado nome de banho Maria. É uma criação de alguns séculos e que, inicialmente, pouco ou nada tinha a ver com a culinária, mas sim com mistérios mais profundos.
Maria Cleophas, uma judia que viveu na alta Idade Média, é ainda hoje considerada como das grandes figuras da alquimia. Escreveu (ou atribui-se-lhe) uma arte de fabricar ouro, que denominou de «Chrisopeia», um tratado de pesos e medidas e um outro sobre destilação.
Em cópias tardias do século X, essas obras ainda podem ser lidas, em Veneza, no conhecido «Manuscrito de S. Marcos», familiar, de nome, pelo menos, aos que se interessam por estes assuntos ocultos.
Das criações de Maria Cleophas, que se intitulava Cleopatra-a-Sábia, avulta o kerotakis, uma espécie de barril fechado (hermético seria mais conveniente para condizer com a alquimia) que servia para processos de destilação.
Do kerotakis surgiu o vulgaríssimo «banho Maria», indispensável, por exemplo, para produzir pudim em condições. (E mousse de chocolate à maneira! E molho holandês...)
Para quem gosta de doces, talvez melhor do que uma duvidosa pepita de ouro no fundo de um cadinho.

sábado, janeiro 27

O Jogo de Futebol

Realizou-se hoje, a horas pouco aconselháveis a noctívagos, um animado e disputadíssimo jogo de futebol organizado pela Comissão Instaladora da Associação de Estudantes da EPTC. O público, exclusivamente feminino, compareceu em massa e vislumbrámos entre a plateia os habituais cartazes de incentivo, como: “Dê-me a sua camisola” e “Força, Professor”.
Rapidamente se formaram as equipas, sendo uma delas a “Team PAP”, que se apresentou com apenas quatro jogadores: o professor Miguel Graça e os alunos finalistas Carlos Balbino, Pedro Caseiro e João Vilas. Quanto à outra equipa, tinha na sua constituição dois desconhecidos com ar um pouco abrutalhado, dois garotos do 1º ano (igoramos os seus nomes) e o aluno do 2º ano, Lourenço Esteves.
Várias foram as razões que nos levaram a duvidar do sucesso da “Team PAP”. Para começar, a desvantagem numérica, e, para continuar, tememos que os alunos do 3º ano estivessem ainda, de alguma forma, “em personagem trágica”. Neste caso: Nero, Filoctetes e Édipo. Ora, um louco, um coxo e um cego dificilmente dariam conta do recado, mas a verdade é que deram. E porquê? A resposta é simples, porque a capitanear esta “Team PAP” esteve um brilhante Professor Miguel Graça. Depressa se percebeu que a sua enorme qualidade futebolística não só disfarçava, como colmatava a desvantagem numérica. Aliás, o primeiro lance do encontro é exemplo disso mesmo. O professor Miguel Graça foi avançando pelo meio campo adversário e, explosivo, rematou do meio da rua com tal força, que não só furou a rede como furou a bola. Atemorizada, a equipa adversária tentou equilibrar a situação através de uma marcação cerrada ao Professor Miguel Graça, marcação essa que só se mostrou competente numa coisa, na demonstração cabal da sua própria incompetência. Sem soluções, passados poucos minutos, num acto de desespero, um brutamontes da equipa adversária agrediu selvaticamente o professor Miguel Graça sem que tivesse sido, sequer, assinalada a respectiva falta. Temeu-se o pior e o público inquietou-se. Felizmente para todos, o Professor Miguel Graça aguentou as dores estoicamente até ao final do desafio, não se notando qualquer quebra no seu fabuloso rendimento.
Quanto aos restantes jogadores, não há muito a dizer. Na “Team PAP” verificámos com satisfação que os alunos finalistas da EPTC escolheram para as suas vidas uma carreira teatral e não futebolística. No que toca à equipa adversária, de salientar o guarda-redes Lourenço Esteves que se apresentou num excelente nível, tendo atingido a bonita marca de 35 golos sofridos num único jogo, golos esses que foram em ampla maioria concretizados pelo Professor Miguel Graça (os que não marcou, deu a marcar).
Em suma, uma bela iniciativa. Sem dúvida, a repetir.

sexta-feira, janeiro 26

Luís XIV e a nobre gula...


Têm as modas culinárias destas coisas: o que hoje é prática comum à mesa, apenas há alguns anos, poderia ser muito mal entendido, e vice-versa.
Serve isto para dizer que o hábito de nos refastelarmos com um só prato a cada refeição seria, por exemplo na França de Luís XIV, entendido pelas classes altas, como uma verdadeira infâmia e ofensa ao apetite. Vigorava à época o hábito de apenas debicar o que de melhor tinha para oferecer cada pitéu. Veja-se o exemplo do monarca citado. Consta que Luís XIV comia de uma assentada perdizes, capões, urogallos e perus. Entenda-se no entanto que não os ingeria na totalidade, mas apenas aquilo que, no entendimento da época, era o regalo de cada prato. Assim, do capão comia o soberano as asas, da perdiz o pescoço e do peru a mitra.
Saciava assim a nobre gula e o que restava, com alguma sorte, apaziguava a fome de alguns súbditos.

quinta-feira, janeiro 25

Na Próxima Aula...

Alta Vigilância, As Criadas e algumas considerações sobre o Teatro da Crueldade.

Tacho

Cebolas, batatas,
coisas baratas
p’ra dentro de mim.
Água gelada,
logo esquentada
fazendo chinfrim.

Feijão, azeite,
tudo em mim deite,
Senhor Cozinheiro!
Garfo espetado,
gosto provado…
- Mas que rico cheiro!

Tudo em mim fazem!...
Transpiro a imagem
da viva tristeza
de não viajar;
no fogão ficar,
sem nunca ir à Mesa!

Maria Pereira, “Rimas do Quotidiano”, Coisas Simples, 1987

quarta-feira, janeiro 24

Antes de começarem... 3






Diário - um registo pessoal quotidiano de experiências, factos, observações e/ou reflexões. Segue a ordem cronológica e pode descrever um processo de trabalho ou servir de confidente para emoções e opiniões pessoais. A uma pessoa que faça este tipo de escrita, chamamos diarista. Se bem que um diário seja um registo periódico, nem toda a gente escreve entradas diárias. Há pessoas que usam o diário como forma de anotar transacções ou negócios. Sendo acima de tudo uma “obra” muito pessoal, não apresenta limitações quanto aos factos a incluir, gozando ainda de ampla liberdade quanto à forma e estilo.

Alguns dos diaristas mais antigos pertenciam às culturas asiáticas. Por exemplo, as mulheres da corte japonesa tinham diários. No século XVIII, por exemplo, muitos viajantes escreveram e, mais tarde, publicaram diários de viagem.

terça-feira, janeiro 23

Antes de começarem... 2

Do fundo dos canhenhos que guardam as misteriosas fórmulas alquímicas que permitem grandes empresas, retirei este feitiço, que recomendo que guardem com grande carinho. Talvez sirva também para esclarecer alguns não-iniciados, que se têm interrogado quanto ao que andamos aqui a fazer.

Portaria nº 550-C/2004, de 21 de Maio
Secção III
Prova de Aptidão Profissional


Artigo 19.º
Âmbito e definição
1. A prova de aptidão profissional (PAP) consiste na apresentação e defesa, perante um júri, de um projecto, consubstanciado num produto, material ou intelectual, numa intervenção ou numa actuação, consoante a natureza dos cursos, bem como do respectivo relatório final de realização e apreciação crítica, demonstrativo de saberes e competências profissionais adquiridos ao longo da formação e estruturante do futuro profissional do jovem.
2. O projecto a que se refere o número anterior centra-se em temas e problemas perspectivados e desenvolvidos pelo aluno em estreita ligação com os contextos de trabalho e realiza-se sob orientação e acompanhamento de um ou mais professores.
3. Tendo em conta a natureza do projecto, poderá o mesmo ser desenvolvido em equipa, desde que, em todas as suas fases e momentos de concretização, seja visível e avaliável a contribuição individual específica de cada um dos membros da equipa.

Artigo 20.º
Concepção e concretização do projecto
1. A concretização do projecto compreende três momentos essenciais:
a) Concepção do projecto;
b) Desenvolvimento do projecto devidamente faseado;
c) Auto-avaliação e elaboração do relatório final.

Um tenor cozinheiro

“Para mim, a cozinha é criação.”
Giovanni d’Amore, tenor italiano, hoje na Praça da Alegria, às 10h15 da manhã, antes de começar a preparar uma receita de gnochi com molho de tomate e manjericão.
Há que aprender com quem sabe...

Núcleo de Cinema da EPTC

Sim, está quase a começar.
Quem quiser saber mais vá aqui...

Dobrada à Moda do Porto

Um dia, num restaurante, fora do espaço e do tempo,
Serviram-me o amor como dobrada fria.
Disse delicadamente ao missionário da cozinha
Que a preferia quente,
Que a dobrada (e era à moda do Porto) nunca se come fria.]

Impacientaram-se comigo.
Nunca se pode ter razão, nem num restaurante.
Não comi, não pedi outra coisa, paguei a conta,
E vim passear para toda a rua.

Quem sabe o que isto quer dizer?
Eu não sei, e foi comigo...

(Sei muito bem que na infância de toda a gente houve um jardim,]
Particular ou público, ou do vizinho.
Sei muito bem que brincarmos era o dono dele.
E que a tristeza é de hoje).

Sei isso muitas vezes,
Mas, se eu pedi amor, porque é que me trouxeram
Dobrada à moda do Porto fria?
Não é prato que se possa comer frio,
Mas trouxeram-mo frio.
Não me queixei, mas estava frio,
Nunca se pode comer frio, mas veio frio.

Fernando Pessoa (Álvaro de Campos)

segunda-feira, janeiro 22

Para animar a semana...

Canção de Mesa

Embora não muito comum em Portugal, em certos países como a França, os convivas cultivam o hábito, bastante antigo, de cantar à mesa após a refeição.
Esta é, ao que tudo indica, uma prática ancestral, proveniente de outras regiões e documentada desde a época romana e grega. Entres estes povos os banquetes terminavam com verdadeiros espectáculos. Também na Idade Média o banquete era celebrado com festins que acompanhavam toda a refeição.
Contudo, a verdadeira “Canção de Mesa” nasceu no século XV com Olivier Basselin, um normando amante da sidra, do vinho e dos prazeres da mesa, que criou o vaux de vire, expressão de que derivou mais tarde o termo Vaudeville. Neste tipo de canções verificamos a existência de incitamentos ao comer e beber e interrupções destinadas a permitir um gole de uma bebida. Têm melodias simples e variadas, fáceis de cantar. A grande época da “Canção de Mesa”, em França, situa-se no período do Império e da Restauração, no século XIX. Cantava-se à mesa, à sobremesa, por vezes canções para beber. Havia também as cantigas de festa e de casamento. Surgem pouco depois os jantares cantantes, os jantares de solteirões, os jantares de amigos, etc. Com as mudanças de hábitos, cantar à mesa passou a ser encarado com um acto pequeno burguês e mesmo vulgar.

domingo, janeiro 21

O seu a seu Dono...


Bem sei que isto não tem a ver com a P.A.P. mas merece referência. Quero agradecer à Margarida, ao Marcos, ao Pedro e ao Marcelo do 2º ano, que passaram o fim-de-semana a trabalhar comigo, tentanto pôr ordem na biblioteca do Espaço-Memória. Foi um esforço grande mas os livros ficaram todos (quase) arrumadinhos!

sábado, janeiro 20

Notas de Dramaturgia

Lamento informar mas a minha vida é muito atarefada e não dei as notas de Dramaturgia... Terão de esperar mais uma semana...

Poemazinho



Uma nêspera
estava na cama
deitada
muito calada
a ver
o que acontecia
chegou a Velha
e disse
olha uma nêspera
e zás comeu-a
é o que acontece
às nêsperas
que ficam deitadas
caladas
a esperar
o que acontece

Mário Henrique Leiria
NOTINHA: Este veio directamente do cantinho Poesia Para Ninguém do meu amigo Magnuspetrus. Obrigada!

sexta-feira, janeiro 19

Stomp

A companhia britânica Stomp está de regresso a Portugal com o seu espectáculo nascido nas ruas, que mistura percussão, movimento, dança, teatro e comédia. A partir de 16 de Janeiro, no Casino Lisboa.
Os Stomp dividem-se em várias companhias que percorrem o mundo e cada espectáculo é diferente do outro. Para este garante-se muito ritmo, animação, objectos em movimento, criatividade (usam instrumentos pouco convencionais como caixotes de lixo, vassouras, latas e bidões) e algum humor pelo meio. Sem esquecer a prestação de cada performer, que imprime um cunho pessoal importante na coreografia conjunta.
"Guia do Lazer", Público

Tragédia

Aristóteles: Imitação de uma acção de carácter elevado, completa e de certa extensão, em linguagem ornamentada e com as várias espécies de ornamentos distribuídas pelas diversas partes [do drama], [imitação que se efectua] não por narrativa, mas mediante actores, e que, suscitando o terror e a piedade, tem por efeito a purificação dessas emoções.
“VI. Definição de tragédia. Partes ou elementos essenciais.” Poética

Séc.s XIX e XX: o conceito desdobra-se e multiplica-se. Na impossibilidade de descrever todos, aqui ficam alguns apontamentos: a tragédia foca-se na família, unidade central da sociedade e se a vida familiar se apresenta doente e corrupta pode minar a nossa confiança na possibilidade de qualquer ordem coerente na sociedade. Em comum com a tragédia clássica tem a exploração da dor de um mundo em que as ficções de uma ordem social racional já não se podem manter. O herói, muitas vezes anti-herói, com frequência se vê confrontado com o pior de si próprio, ao mesmo tempo que se vê confrontado com o que de pior existe no mundo que habita. Daí uma sensação de vazio num mundo que, muitas vezes, se sente como absurdo.

Três Peças para uma Mulher (excerto)

STEPHANIE está a falar com uma amiga ao telefone.

STEPHANIE
Maxie? Maxie, desculpa, tens um minuto? Bem, não é um minuto, são dois dias, pelo menos. Recebi, recebi a tarte de cenoura e os panadinhos de frango e o tacho cheio de chilli com carne. Muito obrigada, querida, mas fizeste comida para um batalhão! Olha que eu agora sou uma mulher solteira. De qualquer modo, obrigada, obrigada a todos. Tu ralas-te e ralhas comigo, mas agora não me interrompas, preciso de falar.
Tenho andado a pensar. A pensar e a lembrar-me e a lembrar-me e a pensar e descobri coisas e cheguei a algumas conclusões. Sou parva! Pior, sou parva e desonesta! Sou parva porque me casei com um homem que nunca amei; e sou desonesta porque fingi que o amava.
Nunca o amei! Eu nem sequer gostava dele. Pensava que o amava porque ele dizia que me amava a mim e... — e foi nessa que eu caí, que nem uma estúpida! Ele foi o primeiro homem a dizer-me “Amo-te!” Imagina! Eu tinha vinte e quatro anos e já andava a começar a pensar que devia ser um nojo, ou que tinha mau hálito, e aparece este homem, um jovem Apolo criado a ovos frescos, sumo de laranja, o fígado mal passado da mãezinha, nos parques de Brooklin High, de olhos verdes e cabelo à Botticelli que até dava vontade de comer e diz “Eu amo-te!” A mim! Quem é que podia resistir? Tinha que ser uma pessoa extraordinária para gostar de mim, e quem era eu para não me apaixonar por uma pessoa extraordinária?


Da peça Desbarato (Yardsale), incluída em Três Peças para uma Mulher, de Arnold Wesker (trad. Maria Velho da Costa e Manuel Cintra). O livro está publicado pela Cotovia, mas não é fácil de arranjar. Quem estiver interessado, pode sempre tentar na sede da
editora.

Muita Merda!

Hoje é a vez do 3º B. O tema e o ponto de partida são os mesmos. A hora e o local, também. 19.00h, na EPTC.


Muita merda, miúdos!

quinta-feira, janeiro 18

A Bruxa regressa...



Pronto… já está! Segundo fontes geralmente bem informadas, o vosso contacto semanal com a Bruxa das PAPs terá início dentro de pouco tempo. Na próxima semana, dado que se realiza em Oeiras uma convenção de Magia & Sortilégios, a dita Bruxa estará ocupada a explicar a jovens aprendizes de feiticeiro como se consegue um filtro milagroso para os calos dos dedos. Por isso, o ETA no pátio da EPTC está previsto para o dia 31 de Janeiro, pelas 9 da manhã. Espera-se que não haja turbulência que impeça tão ansiado encontro.

Muita Merda!


No âmbito da cadeira de T.P.T., estreia-se o 3º A com um exercício inédito na escola. A apresentação de excertos de várias Tragédias que vão de Ésquilo a Jean-Paul Sartre. O ponto de partida foi o Teatro Pobre de Grotowsky. O resultado final é hoje apresentado às 19.00h, na EPTC.


Muita merda, miúdos!

Receita para um Exercício de T.P.T.

Ingredientes
100 gr. de Ajax
100 gr. de Medeia
100 gr. de Hipólito
1 Prometeu Agrilhoado
1 Ifigénia em Áulide
1 tragédia clássica
1 Euménides
1 dl. de Édipo tinto
1 Agamémnon

Salada
Folhas de Troianas variadas
1 molho pequeno de Antígona

Molho
2 c. sopa de Eurípides
1 c. sopa de Sófocles
1 c. de sobremesa de Esquilo

Confecção
Picam-se grosseiramente o Ajax, a Medeia e o Hipólito. Tiram-se os grilhões ao Prometeu. Espalma-se bem. Limpa-se a tragédia de peles e ossos, abre-se com uma faca afiada e retira-se o coro. Estufam-se os 300 grs de tragédias picadas num refogado de Euménides em cubos pequenos com alho. Refresca-se com o dl. de Édipo tinto. Quando tiver evaporado quase todo, recheia-se a tragédia com este picado e fecha-se com fio de culinária. Vai ao forno numa cama de Agamémnon em juliana e uma Ifigénia, limpa de Áulide, às rodelas.
Assa durante muitas horas de ensaios, virado de vez em quando pela mão do professor. Regar com conselhos, indicações e exercícios. Quando estiver quase assado, estende-se por cima o Prometeu espalmado e pincela-se com gema de ovo. Volta ao forno a corar, durante 10 minutos. Quando estiver bem dourado, retira-se do forno e deixa-se repousar durante um ensaio geral.
Entretanto, numa tigela pequena, juntam-se e batem-se bem o Eurípides, o Sófocles e o Ésquilo.
Fatia-se o assado e emprata-se, dispondo três fatias no centro de um palco, rodeadas de uma salada de Troianas e Antígona, temperada com Fedra, Sartre e pimenta. Fazer passar um fio do molho na borda do palco, de forma a criar uma moldura que rodeie os alimentos. Finalmente, polvilha-se com um pouco de Racine, moído no momento, Serve-se bem quente a um grupo de comensais.
Bom apetite!

Poetas...

"É preciso ler os poetas
na sua língua
com rodelas de tomate
e um fio de azeite
ao correr de cada verso."

José Fanha

Requisitos para uma Boa Cozinha

Primeiro que tudo, é preciso manter um lume permanentemente aceso, Depois, um fornecimento constante de água a ferver. Em seguida, um chão sempre limpo. Depois, é a vez dos utensílios para limpar, moer, desossar, pelar e cortar. Seguidamente, um dispositivo para manter a cozinha livre de odores, enriquecendo-a com uma atmosfera limpa e sem fumos. E música, porque os homens trabalham melhor e mais alegremente quando há música. Por fim, um aparelho para eliminar as rãs dos barris de água potável.

Leonardo da Vinci, Notas de Cozinha, códice Romanoff

quarta-feira, janeiro 17

Antes de começarem...

Monografia - trabalho escrito acerca de determinado ponto da história, da arte, da ciência ou sobre uma pessoa ou religião.

A Invenção da Cozinha

A fogueira de lenha do Homem de Pequim, sucessor do Australopitecos foi inventada em consequência da sua habilidade para fabricar utensílios de pedra. Pensa-se que uma pedra, ao chocar com uma outra pedra, terá lançado uma faísca que caiu num tapete de folhas secas onde dormia um nosso antepassado. Produziu-se desta forma uma chama e, assim, descobriu-se e controlou-se o fogo. Foi aliás uma invenção bem oportuna uma vez que a Terra se aproximava de um novo período glaciar.
À medida que o clima se tornava gélido, os animais cobriam-se de pêlos grossos e a sua carne, depois de mortos, congelava rapidamente. O fogo veio dar solução a este problema, sendo utilizado para descongelar os alimentos. Só mais tarde começaram a ser cozinhados.

Ode à Cebola


Cebola,
luminosa redoma,
pétala a pétala
formou-se a tua formosura,
escamas de cristal te acrescentaram
e no segredo da terra sombria
arredondou-se o teu ventre de orvalho.
Sob a terra
deu-se o milagre
e quando apareceu
teu rude caule verde,
e nasceram
as tuas folhas como espadas no horto
a terra acumulou seu poderio
mostrando a tua nua transparência,
e como em Afrodite o mar distante
duplicou a magnólia
levantando-lhe os seios,
a terra
fez-te assim,
cebola,
clara como um planeta,
e destinada
a reluzir,
constelação constante,
redonda rosa de água,
sobre
a mesa
dos pobres.

Generosa
Desfazes
teu globo de frescura
na consumação
fervente do cozido,
e o girão de cristal
ao calor inflamado do azeite
transforma-se em ondulada pluma de ouro.

Recordarei também como a tua influência
fecunda o amor da salada
e parece que contribui o céu
dando-te a fina forma do granizo
a celebrar a tua luz picada
sobre os hemisférios de um tomate.
Mas ao alcance
das mãos do povo,
regada com azeite,
polvilhada
com um pouco de sal,
matas a fome
do jornaleiro no duro caminho.
Estrela dos pobres,
fada madrinha
envolta
em delicado
papel, tu sais do solo,
eterna, intacta, pura
como semente de astros,
e ao cortar-te
a faca de cozinha
sobe a única lágrima
sem mágoa.
Fizeste-nos chorar mas sem sofrer.
Tudo o que existe celebrei, cebola,
mas para mim és
mais formosa que um pássaro
de plumas ofuscantes,
és para os meus olhos
globo celeste, taça de platina,
baile imóvel
de anémona nevada

e a fragância da terra inteira vive
na tua natureza cristalina.
(tradução de José Bento, in Antologia de Pablo Neruda, editorial Inova, 1973 - As mãos e os frutos)

Entre Tachos e Actores


Vinda de tempos obscuros em que a tecnologia assentava numa varinha mágica, um caldeirão e um livro de poções, quero desde já prestar o meu tributo ao meu colega Miguel Desgraça pela ideia, concepção e desenvolvimento tecnológico e bloguístico deste espaço, que se deve à sua muito competente iniciativa.
Assim sendo, também declaro aberta esta cozinha em que, por artes da alquimia, tentaremos ajudar os aspirantes a actores/colheita de 2007 a elaborarem aquele tratado de gastronomia teatral que esperamos que as PAPs venham a ser. Trabalhando entre tachos e actores, estamos aqui para fornecer toda a informação e apoio necessários para o trabalho que vão desenvolver, receber os vossos comentários e dúvidas, contando ainda com a colaboração sempre bem-vinda de colegas que queiram dizer de sua justiça. Os resultados dos vossos esforços, esses, esperamos por eles nas nossas caixas do correio, não aqui.
Prometemos tentar combinar tudo numa poção que, lá para Junho ou Julho, resulte em opíparo repasto a ser servido a amigos, convidados – e júri, lamento! – para satisfação geral.

Sinopses

Quem ainda não o fez, envie-me imediatamente as sinopses das personagens trágicas. As apresentações são amanhã e depois, não se esqueçam!

Bem-vindos

Está bem.
Começo eu.
Este é o blog d’ A Cozinha (a PAP deste ano, para os mais distraídos). Pela parte que me toca, sejam bem-vindos. O blog foi feito para vocês, de maneira que usem e abusem dele.
Estamos a 17 de Janeiro, o que quer dizer que nos próximos cinco meses (mais coisa, menos coisa) eu e a sinistra Bruxa das PAPs vamos andar por aqui (e pela EPTC, obviamente) a dar-vos cabo da cabeça.
Nada a que as meninas e os meninos não estejam habituados, certo?
Enfim...
Ainda estamos no início.