quinta-feira, maio 3

A cereja, a flor e os brincos...

Estamos em Maio, é tempo de cerejeiras em flor. Na Cova da Beira, entre a Gardunha e a Estrela, as cerejeiras enchem-se de flores, promessa de cerejinhas bem vermelhas lá para o início de Junho.



A cereja foi escrita por Cristovam Pavia (Lisboa, 1933-1968)...


Subitamente ficas na paisagem
E olho os teus olhos quentes e antigos...
Tens sol e sede, tens brincos de cerejas
E a pele cheirosa e fresca como água.


Subitamente sinto aquela sede
Dos sobreiros gretados, das estevas...
Mas perto, fonte ardente, dás frescura
À paisagem dormente e abrasadora!

in «35 Poemas» Poesia, Moraes Editores, Lisboa, 1982


A cereja foi cantada... e andou na política...


Esta famosíssima canção de amor francesa falando do tempo das cerejas é de Jean Baptist Clément (letra) e Antoine Renard (música) e foi escrita em 1866 sendo portanto anterior à Comuna de Paris (que durou de 26 de Março a 28 de Maio de 1871) e não é um canto revolucionário, mas uma cançoneta de amor. Algumas informações apontam porém para que a última estrofe, posteriormente dedicada, segundo o testemunho de Louise Michel, a uma enfermeira morta em defesa da Comuna, foi escrita sob a influência da «semana sangrenta» em que dezenas de milhar de combatentes da Comuna foram cruelmente massacrados. Foi pois neste contexto histórico que esta canção se tornou-se um símbolo das imensas esperanças que a Comuna de Paris tinha gerado. Yves Montand. Lisa Lasalle, Juliette Greco, Nana Mouskouri e Tino cantam O Tempo das Cerejas. Esta informação foi retirada de http://www.tempodascerejas.blogspot.com.


E, claro!, não podíamos estar num espaço culinário-teatral e não falar das cerejeiras mais teatrais de todas: as referidas na peça de Tchekhov, O Cerejal.

Em 2004, a Escola da Noite, companhia de Coimbra, apresentou a peça na Casa das Artes em Famalicão e aqui fica o que se escreveu:
O Cerejal foi a última criação de Anton Tchekhov, com estreia no Teatro de Arte de Moscovo há 100 anos, pouco antes de o autor morrer. Trata-se de uma obra que aborda e reflecte a realidade da época: uma Rússia longínqua que cruza o final do século XIX e que enfrenta novos tempos com o progresso industrial e capitalista a ditar novas regras económicas e sociais. Embebida por este ambiente de mudanças profundas, uma família da aristocracia rural é confrontada com a ruptura financeira que inviabiliza a manutenção da sua propriedade, de que faz parte um belo cerejal, fatia mais valiosa e querida do património. Perante a necessidade de tomar um decisão – vendê-lo para não o perder – a família vive momentos intensos de sofrimento e vê-se confrontada com o medo do próprio futuro. É, então, tempo de se projectar para a frente, pois a máquina do mundo não pára e surge uma nova ordem das coisas às quais é preciso dar resposta, ao mesmo tempo que o passado insiste em estar presente, nos lugares mais recônditos como a memória e os afectos. Pelo palco passa uma galeria muito diversa de personagens, que transmitem um ponto de vista múltiplo sobre uma realidade em que todas estão implicadas.

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