A noite, a minha vida adormecida,
o grão-silêncio, grão minha semente
adormecida, grão
com bacalhau, o pão, azeite e vinho…
O bacalhau sugere-me a insígnia
do capitão,
do grumete ou cão
da Terra Nova,
com felpa, botas e touca
de borracha
e com cheiro a sal e a fígado
oleificado.
Outros ingredientes cujo nome sei,
mas não lembro, grão,
semente oculta,
noite que tudo nos fornece,
nada me dá, mas aquece
o que em mim está, o que vive
nela semente, dente,
o ser vivo, esse, esse
irredutível, morte e minha glória.
[…]
Causas perdidas
são as que me dão vida.
Não quero endereçar-me a quem não sirvo:
o capitão, o cão, a face lívida,
a escuna perdida.
Com bacalhau, o grão, vinho e azeite,
tenho-me na vida,
meço o meu limite,
suo eternidade.
Ruy Cinatti, Conversa de Rotina
quinta-feira, abril 19
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