quinta-feira, abril 26

Queijadas de Sintra

Enfim, o maestro desceu, a correr, quase aos trambolhões, com um cache-nez de seda na mão, o guarda-chuva na outra, abotoando atarantadamente o paletó.
Quando vinha pulando os últimos degraus, uma voz esga­niçada de mulher gritou-lhe de cima:
- Olha não te esqueçam as queijadas!
Carlos sorriu. Os artistas, dizia ele, só amam na natureza os efeitos da linha e da cor; para se interessar pelo bem-estar de uma túlipa, para cuidar de um craveiro não sofra sede, para sentir mágoa de que a geada tenha queimado os primeiros rebentos das acácias - para isso só o burguês, o burguês que todas as manhãs desce ao seu quintal com um chapéu velho e um regador, e vê nas árvores e nas plantas uma outra família muda, porque ele e também responsável...
Cruges, que escutara distraidamente, exclamou:
- Diabo! É necessário que não me esqueçam as queijadas!
- Tive nojo! - exclamava o Alencar, rematando fogosa­mente a sua história. - Palavra que tive nojo! Atirei-lhe a bengala aos pés, cruzei os braços e disse-lhe: aí tem você a ben­gala, seu cobarde, a mim bastam-me as mãos!
- Que diabo, não me hão-de esquecer as queijadas! - murmurou Cruges, para si mesmo, afastando-se do parapeito.
- Agora o que tu deves ver, Cruges, é o palácio. Isso é que tem originalidade e cachet! Não e verdade, Alencar?..
- Eu vos digo, filhos - começou o autor de Elvira - historicamente falando...
- Eu tenho de comprar as queijadas - murmurou Cruges.
- Justamente! - exclamou Carlos. - Tens ainda as queijadas; é necessário não perder tempo; a caminho!
- Com mil raios! - exclamou de repente o Cruges, saltando de dentro da manta, com um berro que emudeceu o poeta, fez voltar Carlos na almofada, assustou o trintanário.
O breque parara, todos o olhavam suspensos; e, no vasto silêncio de charneca, sob a paz do luar, Cruges, sucumbindo, exclamou:
- Esqueceram-me as queijadas!

Eça de Queirós, Os Maias

INGREDIENTES
MASSA

400g DE FARINHA DE TRIGO
100g DE AGUA

RECHEIO

1,5kg DE QUEIJO FRESCO SEM SAL
12 GEMAS DE OVOS
120g DE FARINHA DE TRIGO
800g DE AÇÚCAR BRANCO
60g DE COCO RALADO
3g DE CANELA
Massa

Junte a água a farinha e trabalhe bem a massa até que esta fique muito fina e consistente. Acrescente água caso seja necessário. Estenda até ficar com um milímetro de espessura. Depois, corte em rodelas de doze centímetros cada, dobrando-se as bordas e dando quatro cortes nas bordas. Deixe secar.

Recheio

Esmague o queijo com as gemas e o açúcar. Depois de muito bem misturados, juntam-se a farinha, o coco e a canela. Misture bem. Encha as caixas de massa e leve ao forno a cozer.

Esta receita foi extraída do livro de Antonio Maria de Oliveira Bello, dito Olleboma, Culinária Portuguesa, Assirio & Alvim, 1994.

3 comentários:

Gaius disse...

Fiquei com água na boca... Gosto tanto das queijadas de Sintra, que nem os maravilhosos travesseiros superam!

A Bruxa das PAPs disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
A Bruxa das PAPs disse...

Um destes dias, quem sabe!, a Bruxa escreverá sobre os travesseiros da Piriquita...