sexta-feira, janeiro 19

Três Peças para uma Mulher (excerto)

STEPHANIE está a falar com uma amiga ao telefone.

STEPHANIE
Maxie? Maxie, desculpa, tens um minuto? Bem, não é um minuto, são dois dias, pelo menos. Recebi, recebi a tarte de cenoura e os panadinhos de frango e o tacho cheio de chilli com carne. Muito obrigada, querida, mas fizeste comida para um batalhão! Olha que eu agora sou uma mulher solteira. De qualquer modo, obrigada, obrigada a todos. Tu ralas-te e ralhas comigo, mas agora não me interrompas, preciso de falar.
Tenho andado a pensar. A pensar e a lembrar-me e a lembrar-me e a pensar e descobri coisas e cheguei a algumas conclusões. Sou parva! Pior, sou parva e desonesta! Sou parva porque me casei com um homem que nunca amei; e sou desonesta porque fingi que o amava.
Nunca o amei! Eu nem sequer gostava dele. Pensava que o amava porque ele dizia que me amava a mim e... — e foi nessa que eu caí, que nem uma estúpida! Ele foi o primeiro homem a dizer-me “Amo-te!” Imagina! Eu tinha vinte e quatro anos e já andava a começar a pensar que devia ser um nojo, ou que tinha mau hálito, e aparece este homem, um jovem Apolo criado a ovos frescos, sumo de laranja, o fígado mal passado da mãezinha, nos parques de Brooklin High, de olhos verdes e cabelo à Botticelli que até dava vontade de comer e diz “Eu amo-te!” A mim! Quem é que podia resistir? Tinha que ser uma pessoa extraordinária para gostar de mim, e quem era eu para não me apaixonar por uma pessoa extraordinária?


Da peça Desbarato (Yardsale), incluída em Três Peças para uma Mulher, de Arnold Wesker (trad. Maria Velho da Costa e Manuel Cintra). O livro está publicado pela Cotovia, mas não é fácil de arranjar. Quem estiver interessado, pode sempre tentar na sede da
editora.

2 comentários:

Anónimo disse...

Então!! Ninguém vem para a mesa?? O Jantar está servido...

A Bruxa das PAPs disse...

Ena! Nesta cozinha é o Redondo quem merece a gorjeta! Viva o nosso primeiro cliente!