sexta-feira, fevereiro 2

Molho de Rosas Vermelhas



12 rosas, de preferência vermelhas
12 castanhas
2 colheres de fécula de milho
2 gotas de essência de rosas
2 colheres de anis
2 colheres de mel
2 alhos
1 pythaia

Desprendem-se com muito cuidado as pétalas das rosas, procurando não picar os dedos, pois além de ser muito doloroso (picar-se), as pétalas podem ficar impregnadas de sangue e isto, além de alterar o sabor do prato, pode provocar reacções químicas muitíssimo perigosas.
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Tita apertava as rosas com tal força contra o peito que, quando chegou à cozinha, as rosas, que inicialmente tinham uma cor rosada, já se tinham tornado vermelhas por causa do sangue das mãos e do peito de Tita. Tinha de pensar rapidamente no que fazer com elas. Estavam tão lindas! Era impossível deitá-las para o lixo, primeiro porque antes nunca tinha recebido flores e depois porque tinham sido dadas por Pedro. De repente ouviu claramente a voz de Nacha, ditando-lhe ao ouvido uma receita pré-hispânica em que se utilizavam pétalas de rosas. Tita já a tinha meio esquecida….
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Depois de se desfolhar as pétalas moem-se no almofariz juntamente com o anis. À parte, põem-se a dourar as castanhas no comal,* previamente descascadas e cozidas na água. Depois, fazem-se em puré. Os alhos são finamente picados e alouram-se na manteiga; quando já estão louros junta-se-lhes o puré das castanhas, a pithaya** moída, o mel, as pétalas de rosa e sal a gosto. Para que o molho fique um pouco mais espesso podem juntar-se-lhe duas colherzinhas de fécula de milho. Por último, passa-se por um tamis*** e juntam-se-lhe só duas gotas de essência de rosas, não mais, pois corre-se o perigo de ficar demasiado perfumado e estragar o sabor. Assim que estiver apurado retira-se do lume.
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O aroma da essência de rosas é tão penetrante que o almofariz que se utilizava para moer as pétalas ficava impregnado durante vários dias.

*Comal – Disco de barro ou de metal que se usa para cozer tortillas.
**Pithaya – Fruto silvestre tropical (cardo-ananás)
***Tamis - Peneira de fio de seda, de malha muito unida, usada em farmácia, laboratório e doçaria.

Laura Esquível, "Março. Codornizes em Pétalas de Rosas", Como Água para Chocolate, Porto, Edições Asa, 1993

1 comentário:

Anónimo disse...

No entanto rosas com sangue é outro prato igualmente maravilhoso...