terça-feira, março 20

21 de Março é um dia rico...

Celebram-se várias efemérides e todas elas nos interessam. Por isso, a Bruxa andou pelas auto-estradas da informação, atirou-se ao teclado, e aqui vai o resultado.

A primeira efeméride:
Em 1999, a UNESCO declarou o dia 21 de Março como o Dia Mundial da Poesia.
O objectivo é promover a escrita, leitura, publicação e ensino da poesia, “conferindo um novo reconhecimento e ímpeto aos movimentos poéticos nacionais, regionais e internacionais.” Pela poesia e o conhecimento das variadíssimas tradições líricas dos muitos povos alcançaremos um mundo melhor.

Vamos ler mais poesia! Os aprendizes da Amoreira, têm ainda uma vantagem sobre grande parte da outra gente: sendo aspirantes a actores podem dar voz aos poetas, lendo-os para que o resto do mundo ouça o que escreveram.


Hoje celebra-se também o Dia Internacional para a Eliminação da Discriminação Racial.
Em 1960, a polícia da África do Sul abriu fogo sobre uma manifestação pacífica contra as leis do apartheid, tendo matado 69 pessoas. Ao proclamar este dia em 1966, a Assembleia-Geral da ONU pediu à comunidade internacional que redobrasse os seus esforços para eliminar todas as formas de discriminação racial. Sendo que n’A Cozinha existem alguns conflitos entre povos e se referem outros, talvez não seja má ideia pensarem no assunto.
Finalmente, last but not least, é ainda o Dia Mundial da Floresta. Vão até aqui para saber mais um bocadinho sobre esta iniciativa. No fim de contas, precisamos das árvores na cozinha também. Ou como é que íamos arranjar fruta?

E agora, para juntar o útil ao agradável: no ano em que se cumprem 10 anos sobre a morte desse professor e poeta que foi Rómulo de Carvalho/António Gedeão (1906-1997), nada mais apropriado para um blog de escola do que celebrar algumas efemérides com poemas seus. Aqui fica um... e amanhã haverá mais!



POEMA DAS ÁRVORES

As árvores crescem sós. E a sós florescem.

Começam por ser nada. Pouco a pouco
se levantam do chão, se alteiam palmo a palmo.

Crescendo deitam ramos, e os ramos outros ramos,
e deles nascem folhas, e as folhas multiplicam-se.

Depois, por entre as folhas, vão-se esboçando as flores,
e então crescem as flores, e as flores produzem frutos,
e os frutos dão sementes,
e as sementes preparam novas árvores.

E tudo sempre a sós, a sós consigo mesmas.
Sem verem, sem ouvirem, sem falarem.
Sós.
De dia e de noite.
Sempre sós.

Os animais são outra coisa.
Contactam-se, penetram-se, trespassam-se,
fazem amor e ódio, e vão à vida
como se nada fosse.

As árvores, não.
Solitárias, as árvores,
exauram terra e sol silenciosamente.
Não pensam, não suspiram, não se queixam.

Estendem os braços como se implorassem;
com o vento soltam ais como se suspirassem;
e gemem, mas a queixa não é sua.

Sós, sempre sós.
Nas planícies, nos montes, nas florestas,
a crescer e a florir sem consciência.

Virtude vegetal viver a sós
e entretanto dar flores.

Novos Poemas Póstumos (1990)

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