quinta-feira, março 22

Mensagens...

Tal como vos prometi, aqui vão as mensagens que o mago-mor lá da UNESCO enviou ao mundo por ocasião do Dia Mundial da Poesia:

A poesia é tão variada e flutuante quanto o presente. Não está esculpida em pedra, mas é onde as relações com o mundo, o sentido, a cultura e a linguagem são constantemente criadas e recriadas.
Todos os anos, o Dia Mundial da Poesia, em conjunto com muitos outros acontecimentos, feiras e festas da poesia, cria uma oportunidade para o diálogo e reflexão que pode ajudar a trazer a poesia para o convívio dos povos.
A particularidade da poesia que há que reconhecer é que ela não transmite palavras óbvias que possam ser apreendidas de imediato, antes constrói novas e inovadoras formas de linguagem que nada devem aos códigos comuns.
A poesia, porque oferece uma grande variedade de caminhos e formas de escrever é, por isso, uma área de procura e experiência que permite rever a condição humana na sua globalidade. Esta reapreciação fundamental do uso da língua permite uma reflexão crítica universal sobre palavras, géneros e categorias, toda a gama do que é minimamente traduzível. Ao fazê-lo, desenha os contornos de possíveis formas de diálogo entre culturas, histórias e memórias.
Garantir a promoção e salvaguarda dessas formas de troca e transferência – esse poderia ser o objectivo deste dia que, colocado ao serviço da nossa diversidade criativa, pode, espero, alimentar e renovar a capacidade de cada um de nós de compreender a pluralidade cultural do mundo.
A UNESCO, de mãos dadas com os poetas e leitores de poesia, alia-se hoje à causa de todos os que encontram na linguagem a imaginação criativa e propõem novas formas de arte, aventurando-se a criar novas genealogias que possam reconstruir de novo as interligações, desafios e vocabulários que marcam a nossa modernidade.

Koïchiro Matsuura
Director-Geral da UNESCO
21 de Março de 2007
... e do Dia Mundial da Água
A escassez de água pode minar os esforços de desenvolvimento, ameaçar o ambiente e conduzir à tensão, ao conflito e até mesmo à guerra. No entanto, a História mostra-nos que a falta de água motivou a inovação humana, incitando as sociedades a encontrar recursos que remediassem ou aliviassem essa falta. Este ano, no Dia Mundial da Água, somos encorajados a pensar na forma como as comunidades em todo o mundo estão a “Lidar com a Escassez de Água”, e como os seus esforços podem ser apoiados e reforçados. Preocupação especial se prende aos temas do acesso à água doce e ao impacto social das políticas de distribuição de água. Sendo a crescente escassez e a disputa pela água uma ameaça tanto para a paz como para a erradicação da pobreza, é imperativo garantir uma forma mais eficaz e equitativa de distribuir este recurso vital.
A escassez de água não é apenas o resultado de uma falta física de recursos hídricos. É também agravada por problemas de gestão e regulamentação. O crescimento populacional, o desenvolvimento económico, a poluição e as alterações climáticas, todos exercem pressões sobre os recursos hídricos. Da mesma forma, as actividades humanas como a desflorestação, a construção de barragens, a prevenção da erosão, a rega e os armazenamentos e os transvases, todos afectam os processos hidrológicos e os recursos hídricos à nossa disposição, sublinhando a importância de uma administração responsável.
Se bem que a escassez de água não esteja circunscrita às regiões áridas e semi-áridas, as condições climatéricas e as práticas desordenadas tornam essas zonas altamente vulneráveis à falta de água. Os desenvolvimentos tecnológicos tornaram possível a elevação dos padrões de vida em zonas onde os recursos naturais estão longe de ser abundantes. A tecnologia da dessalinização tornou-se mais acessível, transformando os oceanos em recursos de água doce, mas não é desprovida de custos e consequências ambientais.
Os métodos modernos e tradicionais de recolha aumentam a quantidade de água disponível para consumo. A utilização de aquíferos não-renováveis oferece também uma oportunidade de alívio da crescente escassez de água em regiões onde ela é rara, desenvolvendo assim o bem-estar social e facilitando o desenvolvimento económico. No entanto, estes benefícios têm de ser cuidadosamente ponderados em função dos seus custos. A maior disponibilidade de hoje deve ser equilibrada com a sustentabilidade para as gerações futuras. É necessário conservar a água disponível, diminuir a procura e aumentar a consciência do carácter limitado dos recursos hídricos. São necessárias estratégias de adaptação sensatas que garantam a subsistência em áreas marginais que sofrem os impactos das variações climatéricas. Devemos disponibilizar aos países em vias de desenvolvimento, onde os problemas da escassez de água se revelam mais prementes, o saber, a capacidade e a tecnologia necessária.
A UNESCO crê firmemente que, se bem que uma rigorosa avaliação científica dos recursos seja um pré-requisito para a formulação e desenvolvimento de políticas sólidas, uma melhor capacidade de lidar com a escassez de água não é alcançável apenas com recurso à ciência e à tecnologia. É necessária uma abordagem multi-disciplinar que tome em consideração a dimensão sócio-económica da gestão da água potável. A educação tem um papel vital na criação de mudanças comportamentais que ajudem a conservar a água. A cultura também desempenha um papel importante na determinação do tipo de medidas de gestão da água e soluções técnicas que se revelem aceitáveis por comunidades específicas. A comunicação é vital para transmitir ao público em geral a importância de preservar os recursos hídricos. A UNESCO, com o seu mandato para as ciências, educação, cultura e comunicação, está colocada num lugar ímpar para liderar essa abordagem holística e multi-disciplinar.
Lidar com a escassez de água é um assunto complexo que exige uma cooperação alargada a todos os níveis da sociedade. As Nações Unidas estão já a trabalhar em conjunto, com a coordenação da UNWater, para desenvolver uma abordagem do sistema que enfrente este desafio. No Dia Mundial da Água, convido todos os outros parceiros e interessados a juntarem-se a nós na elaboração de uma resposta abrangente e global. Façamos da distribuição sustentada e equitativa da água uma prioridade de todos.

Koïchiro Matsuura
Director-Geral da UNESCO
22 de Março de 2007
E agora corram para os dicionários para aprenderem o significado das palavras que não conhecem!

Sem comentários: