terça-feira, março 27

Dia Mundial do Teatro

O Dia Mundial do Teatro foi criado em 1961 pelo International Theatre Institute, organização não-governamental, fundada em Praga em 1948 pela UNESCO em conjunto com a comunidade teatral. Todos os anos, a 27 de Março, o Dia Mundial do Teatro é comemorado pelos centros do ITI e pela comunidade teatral internacional. Muitas iniciativas se organizam para marcar a data. Uma das mais importantes é a divulgação da Mensagem Internacional para o Dia Mundial do Teatro em que, a convite do ITI, uma figura de renome mundial, partilha os seus pensamentos sobre o tema “O Teatro e uma Cultura de Paz”.

Este ano, o convite foi dirigido ao Sultão Bin Mohammed Al Qasimi. Eis a sua mensagem:

Foi durante os meus primeiros tempos de escola que me deixei fascinar pelo teatro, esse mundo de magia que desde então me mantém cativo.
O começo foi modesto, um encontro acidental que encarei apenas como uma actividade extra-curricular para enriquecer mente e espírito. Mas haveria de se transformar em algo muito maior do que isso quando me envolvi profundamente como dramaturgo, actor e encenador de um espectáculo teatral. Recordo tratar-se de uma peça política que enfureceu as autoridades do tempo. Todo o material foi confiscado, e perante os meus olhos encerraram o próprio teatro. Mas não se pode esmagar o espírito do teatro debaixo das pesadas botas dos militares armados. Esse espírito procurou abrigo e instalou-se no mais profundo do meu ser, tornando-me plenamente consciente daquilo que o teatro pode fazer na vida das nações, em especial enfrentando todos aqueles que não toleram oposições ou as diferenças de opinião.
Ao longo dos meus anos de universidade no Cairo, o poder e o espírito do teatro enraizaram-se e aprofundaram-se na minha consciência. Li avidamente quase tudo o que se escreveu sobre teatro e vi o amplo leque do que se levou à cena. Esta consciência aprofundou-se ainda mais nos anos seguintes, à medida que tentava acompanhar os últimos desenvolvimentos no mundo do teatro.
Nas minhas leituras sobre teatro, desde o tempo dos gregos até aos nossos dias, tornei-me profundamente consciente da magia interior que os muitos mundos do teatro têm o poder de exercer. É assim que o teatro alcança as zonas mais profundas e escondidas da alma humana e desvenda os tesouros escondidos que estão bem no fundo do espírito do homem. Isto reforçou a minha já inabalável fé no poder do teatro e no teatro como instrumento de unificação através do qual o homem pode espalhar o amor e a paz. O poder do teatro também permite que se abram novos canais de diálogo entre raças diferentes, etnias diferentes, cores diferentes e credos diferentes. Pessoalmente, isto ensinou-me a aceitar os outros como eles são e instilou em mim a crença que a humanidade pode unir-se no bem, ao passo que, no mal, só poderá dividir-se. É verdade que a luta entre o bem e o mal é intrínseca ao código teatral. No entanto, em última análise, o bom-senso prevalece e a natureza humana alinhará, em larga medida, com tudo o que é bom, puro e virtuoso.
As guerras que atormentaram a humanidade desde os tempos mais antigos tiveram sempre por motivo instintos maléficos que, muito simplesmente, são incapazes de reconhecer a beleza. O teatro aprecia a beleza e até poderíamos defender que nenhuma forma de arte consegue apreender a beleza com mais fidelidade do que o teatro. O teatro é um receptáculo global para todas as formas de beleza e os que não valorizam a beleza não podem dar valor à vida.
O teatro é vida. Nunca como agora existiu um tempo em que é dever de todos fazer a denúncia das guerras fúteis e das diferenças doutrinais que, muitas vezes, levantam as suas feias cabeçorras sem se deixarem intimidar por uma consciência plena de responsabilidade. Temos de pôr um fim às cenas de violência e mortes aleatórias. No mundo de hoje, estas cenas tornaram-se banais e são tanto mais agravadas pelas diferenças abissais entre a riqueza imoral e a mais abjecta pobreza e por doenças como o SIDA que atormentaram muitas zonas do globo e derrotaram os melhores esforços empreendidos na sua erradicação.
Oh, gente do teatro, é quase como se tivéssemos sido atingidos por uma tempestade e esmagados pela poeira da dúvida e da suspeita que se vai aproximando de nós.
A visibilidade quase se eclipsou e as nossas vozes gritam, quase inaudíveis, por entre o clamor e as divisões que se esforçam por nos manter longe uns dos outros. Na realidade, não fora a nossa crença profunda no diálogo, manifestada de forma tão única numa forma de arte como o teatro, e seríamos varridos pela tempestade que não se poupa a esforços para nos dividir. Por isso, devemos enfrentar e desafiar todos os que não se cansam de agitar a tormenta. Devemos enfrentá-los, não destruí-los, mas erguermo-nos mais alto do que a atmosfera contaminada que ficou na esteira das suas tempestades. Devemos unir os nossos esforços e devotá-los a comunicar a nossa mensagem e a estabelecer laços de amizade com todos aqueles que, entre as nações e os povos, clamam por fraternidade.
Nós não passamos de simples mortais, mas o teatro é tão eterno como a vida.


Quem é o autor:
Formação académica: Bacharelato em Engenharia Agrícola (1971) pela Universidade do Cairo, Egipto; Doutoramento em Filosofia com Distinção em História (1985) pela Universidade de Exeter, Inglaterra; Doutoramento em Filosofia e Geografia Política do Golfo (1999) pela Universidade de Durham, Inglaterra.
Foi feito membro honorário do Instituto de Estudos Africanos (1977) e a Universidade de Cartum, Sudão, concedeu-lhe um doutoramento honoris causa em Direito (1986). Recebeu outros graus de Doutor honoris causa de várias universidades de Inglaterra, Paquistão, Rússia, Malásia e Canadá.
Entre os variados cargos que desempenhou contam-se os de Ministro da Educação dos Emirados Árabes Unidos, Governador de Sharjah, Membro do Conselho Supremo dos UAE, Presidente da Universidade de Sharjah, Professor Catedrático Convidado da Universidade de Exeter, Presidente do Conselho Honorário da World University Service, Professor Catedrático da Universidade de Sharjah e Presidente Honorário da Associação Egípcia para o Estudo da História.
Entre as distinções que recebeu estão o prémio do Instituto de Investigação da História, Arte e Cultura Islâmicas, uma condecoração da Organização Cultural, Científica e Educacional Islâmica, o prémio Rei Faisal para o Islão e os Muçulmanos 2002 e a medalha de ouro da Cultura Árabe da Associação Árabe para a Educação, Cultura e Ciência.
A sua obra é variada, incluindo muito trabalho de investigação científica, ensaística e algumas obras dramáticas.

7 comentários:

Anónimo disse...

sua alteza. o sultão assim o exige.

Gaius disse...

O professora, depois de tanto pensar não cheguei a uma conclusão. Já muitos disseram que eu sou preguiçoso (e eu faço os possíveis para não ser) mas nunca me disseram da forma que a professora disse, uma forma bruxesca! Não queria lhe perguntar isso pelo blog mas as condições assim o exigem(!)
É a minha barriga?Se for já estou a tratar disso...

Sara Caeiro disse...

Não sou uma pessoa muito ligada às artes, nem tenho grande geito para isso, mas realmente o teatro é algo universal. E que coisa melhor para dialogar entre culturas do que algo universal?

Gaius disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
A Bruxa das PAPs disse...

Imperador, avé! Ora então, desça um bocadinho até ao Grandioso Concurso e descobrirá a resposta para dúvida tão angustiante! E amei essa nova palavra: bruxesca! Eu falo de uma forma bruxesca! Ora digam lá se não é o máximo?!

A Bruxa das PAPs disse...

Oh, jovem Ló Ló... bem vinda à nossa cozinha! Volte sempre... mas é "jeito" mesmo...

Anónimo disse...

Odeio clientes. Intrometido! Não sabem que a zona deles é a sala de refeições? Anda aqui uma pessoa a trabalhar e só "servem" para intervenções supérfluas!

Em relação ao texto, sinto-me muito pequeno, mesmo muito pequeno. Reduzido, muito reduzido. No entanto, dá-me cá uma vontade de crescer... =)

Um beijinho, Bruxinha